Caso Hytalo Santos: Entenda a Denúncia de Felca

O cenário digital brasileiro foi abalado por um evento que transcendeu as telas e mobilizou o sistema de justiça. A publicação do vídeo “Adultização”, do youtuber Felca, em 6 de agosto de 2025, não foi apenas mais uma denúncia; foi, segundo a Polícia Civil da Paraíba, o “ponto catalisador” que impulsionou e deu visibilidade a uma investigação que já corria em sigilo contra o influenciador Hytalo Santos desde 2024. A partir de então, uma série de eventos se desenrolou em uma cronologia que expõe os perigos da exposição de menores na internet e as consequências legais para os envolvidos.

Este artigo apresenta um compilado completo dos acontecimentos recentes, detalhando o contexto, as ações da polícia e os alertas de especialistas que a denúncia de Felca trouxe à tona. É uma análise aprofundada de como uma voz na internet se tornou o estopim para uma operação policial de grande escala.


O Ponto de Virada: O Vídeo “Adultização” de Felca

Felca, cujo nome de registro é Felipe Bressanim Pereira, um youtuber de 27 anos conhecido por seu humor e conteúdo crítico, já tinha um histórico de confrontar temas controversos. Antes de “Adultização”, ele havia ganhado destaque ao criticar a forma como influenciadores divulgam plataformas de apostas esportivas, o que lhe rendeu uma série de ameaças. Essa postura o preparou para o desafio de abordar um tema ainda mais sensível e urgente.

Felca-denuncia-Hytalo-Santos-2 Caso Hytalo Santos: Entenda a Denúncia de Felca

Em seu vídeo, de 50 minutos de duração, Felca mergulhou em um “lamaçal” que, segundo ele, foi uma experiência aversiva. Para garantir que sua denúncia fosse precisa e ética, ele investiu mais de um ano em pesquisa, contando com a consultoria de uma psicóloga especializada em crianças. O youtuber expôs a prática de influenciadores que abusam da imagem de menores, mostrando crianças em situações impróprias para a idade.

O principal argumento do vídeo é que o algoritmo das redes sociais favorece a disseminação desse tipo de conteúdo, atraindo um público de pedófilos e criminosos sexuais. Felca alertou que, movidos pela monetização, pais e responsáveis acabam incentivando a exposição, criando um ciclo vicioso onde a segurança e a inocência da criança são trocadas por lucro. A repercussão foi massiva e imediata, com o vídeo ultrapassando a marca de 100 milhões de visualizações no Instagram.

A Investigação em Curso: Da Apuração Secreta à Ação Policial

A Polícia Civil da Paraíba já vinha investigando Hytalo Santos, um influenciador de 26 anos, desde 2024. No entanto, o caso corria em sigilo, sem o mesmo clamor público. A denúncia de Felca mudou esse cenário por completo. As autoridades afirmaram que o vídeo foi um “ponto catalisador”, provocando uma enxurrada de novas denúncias que fortaleceram as evidências e justificaram a intensificação das ações.

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A polícia, então, deu início à “Operação Rosto Oculto”. Os investigadores afirmam que os vídeos de Hytalo Santos mostravam crianças em “reality shows” online, usando maquiagem, roupas adultas e se envolvendo em conversas com linguagem sugestiva. Essa conduta, segundo a polícia, configura crimes previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), especialmente a exploração infantil.


Cronologia dos Acontecimentos Recentes

O impacto do vídeo de Felca foi sentido rapidamente, resultando em uma série de ações policiais que trouxeram o caso para a luz:

  • 14 de Agosto de 2025: Novas Buscas e Apreensões A Justiça da Paraíba autorizou novas buscas e apreensões nos endereços de Hytalo Santos em João Pessoa. O objetivo da polícia era reunir mais evidências dos crimes de exploração e adultização de crianças. No entanto, a investigação se expandiu, e o novo mandado também buscava provas de possíveis crimes de fraude e lavagem de dinheiro, em uma possível ligação com sorteios de loteria que o influenciador promovia.
  • 15 de Agosto de 2025: Prisão do Marido do Influenciador No mesmo dia, Euro, o marido de Hytalo Santos de 23 anos, foi preso em São Paulo. Ele é acusado de participar ativamente da produção dos vídeos, sendo, portanto, cúmplice nos crimes de exploração e “adultização” de crianças. A defesa de Euro negou as acusações, alegando que ele é uma vítima de pressão social e que sua participação se limitava à gestão. A prisão, contudo, reforça a gravidade das acusações e a seriedade da investigação.

O Alerta dos Especialistas e a Luta por Legislação

A denúncia de Felca não apenas mobilizou a polícia, mas também reacendeu o debate nacional sobre a responsabilidade de pais, influenciadores e plataformas. A juíza Vanessa Cavalieri, da Vara da Infância e Juventude do Rio de Janeiro, em entrevista ao Conexão GloboNews, reforçou a urgência do tema, alertando que a internet é um “lugar público e perigoso” onde a exposição de crianças em perfis abertos pode ser como “entregar esse material de bandeja para predadores sexuais”.

A juíza abordou o conceito de “sharenting“, a prática de pais que compartilham excessivamente a vida dos filhos na internet. Ela fez um alerta claro: “a imagem dos filhos pertence aos filhos, não aos pais. Nós não somos donos dos conteúdos dos nossos filhos, e é injusto a gente usar essa imagem só porque eles são pequenos”.

Cavalieri também destacou a importância do Projeto de Lei 2628/2022, que já foi aprovado no Senado e cria regras para proteger crianças e adolescentes no ambiente digital, responsabilizando as plataformas que lucram com essa atividade. Para ela, a discussão deve ser suprapartidária, pois a proteção dos menores não pode ser “sequestrada pela polarização política”.

O Legado de Felca: Uma Gota de Coragem no Oceano

A coragem de Felca em enfrentar ameaças e o risco de processos para defender os mais vulneráveis é um exemplo de que o ativismo digital pode, sim, ser uma força de mudança. Mesmo diante das dificuldades, ele se mantém firme, acreditando que sua ação, embora seja uma “gota no oceano”, é essencial para um bem maior. O caso Hytalo Santos se tornou um marco, mostrando que a vigilância e a denúncia da sociedade civil são ferramentas poderosas para garantir que a justiça seja feita. É um lembrete crucial da necessidade de um olhar crítico sobre o que consumimos e compartilhamos, e da importância de proteger as crianças no ambiente digital.

Fonte: G1

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